As aparências aí estão, lidamos com elas a todo momento, provocando reações, mesmo que impensadas e automáticas. Podemos continuar não nos percebemos, mas também somos aparências e delas utilizamos para influenciar o meio que nos relacionamos, mesmo que a nós mesmos. Sim, também utilizamos de nossa aparência para influenciar nossas próprias ações. Interessante que não importa a qualidade e o valor desta influência, ela pode ser utilizada para seduzir, para congregar, afastar, para provocar medo, proteção ou agressão.
Olá, enfim, elas ali estão, nos caracterizando na presença, diferenciando-nos como únicos e contribuindo para provocar reações que nos beneficiariam de alguma forma.
Tudo no mundo tem forma, ocupa um lugar no espaço e tempo, apresenta textura, consistência, cheiro e cor, é suscetível a variações climáticas e “apresenta-se” como sendo.
Tudo “apresenta-se”, surge ao espectador, quer seja um Ser inanimado ou animado (com vida) como se obedecesse a um propósito: “estar presente”. Por mais que estejamos em um mundo que existia antes de nós “aparecermos” e que permanecerá após o nosso “desaparecimento”, a aparência nos remete ao imediatismo do presente. É a possibilidade de se estabelecer relações com o que se apresenta no momento como presença e de forma que nos distinguimos de todos, tornando-nos únicos.
Esta característica da aparência, o de tornar-se presente, demonstra que as coisas são o que se mostram ser. A aparência é fundamento para a existência como presença do Ser.
Nos seres animados (com vida) observamos que a aparência não segue somente ao propósito de estar presente, existem outros a serem considerados. Por exemplo, o propósito de “ser belo” ao meio para que se sejam realizados determinadas expectativas vitais, tal como sobrevivência, constituição de parceria sexual e perpetuação da espécie, para ser aceito nas relações e para estabelecimento de relações de poder. Ou para ter a aparência de terrível, agressivo e não prazeroso para nos protegermos e afastar ou confundir os predadores. Em outras palavras, a importância da aparência é provocar uma reação ao observador através de seus sentidos, porque a qualidade da aparência é determinada pelo ponto de vista, interesse e perspectiva do observador.
Exemplifiquemos pela natureza. Segundo Giannetti, “A natureza submete tudo o que vive ao jugo de duas exigências fatais: manter-se vivo e reproduzir a vida.” (“Auto-Engano” – Giannetti, Eduardo, Editora Companhia das Letras, São Paulo, SP, 1999, 7ª edição, pg.17). A aparência pode estar voltada à suscitar reações específicas aos seres da própria espécie. Por exemplo, o tamanho das aves e o colorido e formato de suas penas e as características musicais dos seus assobios e música, caracterizam as espécies, e são encontradas particularidades em cada ave de uma espécie, que as tornam com “aparências” única, distinguindo-a de todas as outras aves. As aves machos de uma determinada espécie, mantém colorido e desenhos de penas que diferenciam das aves fêmeas, pois as aves machos atraem as fêmeas para acasalamento e perpetuação da espécie, através de sua aparência e majestosidade e da sua presteza dos cantos, entre outras particularidades de cada espécie. A aparência é também utilizada para determinar poder, força e superioridade sobre outros da própria espécie, desenvolvendo aparência que provoque medo, respeito e inibição ao outro, por exemplo, as galhadas dos Alces Alfa, ou as Jubas dos leões, etc.
Porém, as aparências podem estar voltados à desenvolver reações de aproximação ou de repulsa de outros seres, que são díspares à sua espécie, mas que são fundamentais para a sua perpetuação, promovendo ganhos e satisfações à espécie que atraiu, ou para protegerem-se de algum ato predatório. Como exemplo, as plantas que desenvolveram as flores de forma extremamente sedutoras às aves, abelhas e insetos, através do néctar, cheiro, estética em suas cores e formas, com o intuito de utilizar os seres que atraiu para desenvolver a polinização. E plantas que desenvolvem proteção extra de sobrevivência através da apresentação de seus espinhos.
As aparências com o intuito de “esconder” são inúmeros: borboletas que “apresentam” Olhos de predadores nas pontas traseiras de suas asas, peixes que apresentam formatos de seus predadores naturais, animais, como o camaleão, que alteram a coloração de sua pele, promovendo camuflagem natural.
Assim, podemos dizer que as aparências, além de determinarem a existência do Ser, e individualizá-lo, tornando-o único, também se prestam a propósitos de desenvolver reações, através dos sentidos do observador,com intuito de preservar-se e sobreviver, para a procriação e perpetuação da espécie, de esconder o “ser”, de ludibriar o predador e a presa e de confundir através do engano , além de procurar despertar medos e respeito ao observador.
Eduardo Giannetti afirma em seu livro “Auto-Engano” que existem dois estratagemas básicos na criação de ilusões:“Há o engano por ocultamento, que se baseia em ardis de camuflagem, mimetismo e dissimulação; e há o engano por desinformação ativa, baseado em prática como o blefe, o logro e a manipulação da atenção”. (“Auto-Engano”, Giannetti, Eduardo, Editora Companhia das Letras, São Paulo, 7ª edição, 1999, pg. 24).
Esta função de mostrar e esconder das aparência, são caracterizadas no próprio ser. As aparências, que externamente individualizam, embelezam e promovem o prazer e agradam, ou que promovem força e proteção, escondem o interior,os órgãos internos, com formas que desagradam e que não identificam o ser, a não ser que existam deformações dos mesmos, bem como a sua fragilidade característica.
Mesmo as aparências dos seres inanimados apresentam também esta característica de esconder, por exemplo, uma pedra esconde o que contém no seu interior, pois ali podem estar contidos minérios, pedras preciosas, óleos ou mesmo fósseis.
Esta linearidade da análise dos fenômenos da aparência existentes na natureza, ganha perspectivas mais complexas no ser humano. Pois aprendemos a usar destes fundamentos para o alcance de outros propósito, quer individuais ou sociais. Ao percebermos a influência que a aparência exerce sobre os sentimentos e sentidos do observador e ao aprendermos das práticas de individualizar, e de preservação e ocultação, utilizamos destas práticas em nosso cotidiano, procurando influenciar as ações que o observador possa ter através destes estímulos, muitas vezes de forma que não corresponde na nossa forma de ser, caracterizando uma aparência inautêntica, construída artificialmente com intuito de ludibriar e enganar.
O mesmo fazemos quando utilizamos da aparência para ocultar, proteger e camuflar nosso ser da observação que fazemos de nós mesmos. Por esta característica se faz, muitas vezes necessário, a consulta de outras pessoas para idêntica estas práticas que auto utilizamos.
O ditado popular: “a primeira impressão é a que fica”, demonstra o poder que a aparência exerce sobre o observador e mesmo que a a aparência seja autêntica ou inautêntica, leva à desilusão do observador quando esta aparência é desmantelada por alguma descoberta fundamental.
Sobre a Verdade e a Aparência:
Entretanto o ditado popular: “As aparências enganam”, oferece a reflexão de que se nos ativermos nas “semblâncias” das aparências, nos iludimos acerca do nosso olhar para com o outro, podendo nos enganarmos acerca do ser observado. Este ensinamento popular nos leva a pensarmos acerca de nossas crenças e de que o meio tem uma forma particular de ser e não como eu gostaria que fosse e da importância de se buscar os fundamentos anteriores à esta aparência.
O pensamento, junto com sua forma analítica e investigativa, é a forma que a ciência a filosofia, a psicologia e as ciências sociais e humanas em geral, utilizam para poder “descobrir” os fundamentos do ser que estão escondidos pela aparência. Contudo, quando nos defrontamos com o surgimento de algo que estava escondido, este, quando encontrado, torna-se nova aparência e se sobrepõe a aparência existente até então. Isso não quer dizer que é algo de maior valor, mas esta descoberta caracteriza sua importância, e esta nova aparência perdurará até que nova “descoberta” seja efetuada.
Esta relação de continuidade do processo entre ter-se a ilusão de algo que se apresenta e da desilusão que ocorre quando esta aparência é destroçada, pode movimentar sensações de confiança e desconfiança para com aquele ser. Porém, esta desilusão também é experienciada para com o próprio observador, pois este se percebe ter sido seduzido pelas semblâncias, pois sua própria aparência também é destroçada por este algo novo que surge.
Quando o interior é demonstrado na aparência exterior:
Mesmo quando a aparência esconde o interior ou fundamentos de valores maiores, estes mostram-se, dão sinais de existência na aparências, mesmo que esta não as perceba. Estes sinais mostram-se ás vezes de forma sutil, outras de forma mais contundente.
Para entendermos tomemos por exemplo a saúde de um indivíduo. Uma noite mal dormida é suficiente para que surjam sinais na aparência que denunciam o ocorrido e o cansaço e prostração existente. São olheiras, olhos inchados, movimentos lentos com o corpo um pouco inclinado, fala mais arrastada, olhos vermelhos, enfim, uma série de sinais que por mais sutil que seja, pode ser importante aos olhos de alguém treinado. Os sinais muitas vezes perduram na aparência, fazendo parte da mesma, outras vezes, são sinais que tendem a vir e ir, sem que implique em denúncias claras. Por mais que a aparência venha proteger e esconder , esta se mostra vitrine do que “ocorre internamente” ao observador treinado, são sinais que os órgãos internos, sentimentos e aflições que “aparecem” no semblante, denunciando o ocorrido. A Medicina Tradicional Chinesa busca estes sinais sutis de coloração de pele, olhos e língua, pequenos sinais nas orelhas ou na face, cheiros sutis e sinais que apontam uma desordem interna.
Estes sinais estão à disposição do bom observador, o desejo e o interesse de alguém por uma joia ou por um ser amado será denunciado pela dilatação das pupilas ou pela alteração da respiração, uma sensação de vergonha pelo rubor, mesmo que sutil da pele, ou os medos pelo empaledecimento do rosto.
É comum a sensação de vulnerabilidade que a aparência pode provocar no próprio indivíduo, a ponto deste encontrar estratégias que venham a enganar os olhos do observador. São vários os motivos que podem levar alguém exercer tal ação, provocando ou mostrando uma aparência não autêntica, com o intuito de levar o outro ao engano.
Somos especialistas na arte de enganar pela aparência: maquiagens, roupas específicas para cada ocasião, treinamento de postura e da forma de falar e do que dizer e como dizer, utilização de próteses e perfumes, enfim, somos, nos tornamos, especialistas na arte de enganar e de se auto-enganar. Para tanto, nos especializamos em compreender o observador e exercemos ações e demonstrações para dele termos o resultado esperado.
Dualidade SER e APARÊNCIA
Somos o que aparentamos ser. Esta afirmação pode parecer estranha a nós, pois tendemos a entender o Ser e a Aparência como dois mundos, onde o Ser é mais autêntico, denso, cheio de significados e conteúdo e a Aparência, como “uma mera aparência”, isto é, somente casca, superficial e sem conteúdo. Esta visão dicotômica é uma verdade que pode ser desacreditada, sobretudo quando nos reportamos às aparências autênticas. Elas imprimem uma impressão autêntica no outro que nos observa, permitindo que este nos conheça prontamente e nos retribuir com suas impressões. Percebo o Ser como uma pedra preciosa multifacetada em sua lapidação , que sempre brilha e reflete de forma diferente a cada movimento e ponto de vista. Concordo que esta multiplicidade de brilhos e reflexos são às “Aparências” deste Ser, e que serão tantas quanto os olhares e percepções a cada momento, porém, sempre o Ser mostrar-se-á pleno aos olhos de quem o vê e provocará desejos, perplexidade e êxtase pois sempre se mostrará autêntico e pleno.
“… a comum compreensão filosófica do Ser como o fundamento da Aparência é verdadeira para o fenômeno da Vida; mas o mesmo não pode ser dito sobre a comparação valorativa Ser versus Aparência que está no fundo de todas as teorias dos dois mundos.” (“A Vida do Espírito”- Arendt, Hannah, Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, RJ, 2009, p.59).
Somos tentados a dar maior valor ao Ser, pois dele pensamos como aquele que não pode ser abarcado, percebido na sua totalidade e que está, de alguma forma, além das condições de espaço e tempo. Em contrapartida, a Aparência, está somente para o “presente”, é aquela que nos alicerça na presentificação do agora e que mostra como hoje estamos e somos, bem como das implicações do passado e dos sentimentos do que está porvir, permitindo a experiência para com o Ser que se apresenta e a isso chamamos de “contato com a realidade”.
“A experiência transcende não só a Aparência, mas o próprio Ser.” (“A Vida do Espírito”- Arendt, Hannah, Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, RJ, 2009, p.59).
Aparência, Realidade e Pensamento
Aparência exige expectadores pois implicam reconhecimento e admissão de potenciais; entendemos isso por realidade.
“…nossa ‘fé perceptiva’- como designou Merleau-Ponty-, nossa certeza de que o que percebemos tem uma existência independente do ato de perceber, depende inteiramente do fato de que o objeto aparece também para os outros e de que por eles é reconhecido. Sem esse reconhecimento tácito dos outros não seríamos capazes nem mesmo de ter fé no modo como aparecemos para nós mesmos. “(“A Vida do Espírito”- Arendt, Hannah, Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, RJ, 2009, p.63)
Ter experiências com as Aparências é estar em contato com a realidade, porém, isso quando as aparências são autênticas. Aprendemos que nem sempre estamos lidando com aparências autênticas, que muitas vezes somos enganados por aparências inautênticas proporcionando um distanciamento para com a experiência da realidade. Neste contexto a única relevância é observarmos se tais aparências nos levam ao logro ou se a percepção da realidade está comprometida devido a nossas crenças dogmáticas, pressupostos arbitrários e equivocados ou determinadas por simples miragens. Estas experiências de enganos provocados pela própria aparência ou por meu auto-engano, nos permite a termos certa desconfiança do se mostra presente, e sua autenticidade é testada por inspeções mais cuidadosas, ou através da faculdade de abstrair-se e pensar: “ – a habilidade de pensar, que permite ao espírito retirar-se do mundo, sem jamais poder deixa-lo ou transcendê-lo.” (“A Vida do Espírito”- Arendt, Hannah, Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, RJ, 2009, p.62).
Aparência e Intencionalidade
Husserl ao refletir sobre os fenômenos, e na busca da compreensão dos mesmos, nos presenteia com a percepção da existência da intencionalidade em todos os atos da consciência. E Hannah Arendt acrescenta que “nenhum ato subjetivo pode prescindir de um objeto.” (“A Vida do Espírito”- Arendt, Hannah, Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, RJ, 2009, p.62) e que “ A objetividade é construída na própria subjetividade da consciência em virtude da intencionalidade. Ao contrário, e com a mesma justeza, pode-se falar da intencionalidade das aparências e da sua subjetividade embutida.” (“A Vida do Espírito”- Arendt, Hannah, Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, RJ, 2009, p.63).
Como vimos, a nossa percepção da Aparência pode nos levar a erros e ilusões, mas mesmo assim é uma indicação da realidade e nos arremete a experiências sensoriais acompanhadas da sensação de realidade, pois não conseguimos abstrair algo de seu contexto quando a experimentamos através dos sentidos e sensações.Asemoções acompanham a experiência que temos da Aparência , pois sua função é influenciar o observador, e esta experiência é subjetiva pois está sujeita às intenções que imprimo neste experienciar. Uma forma que pode nos trazer determinado conforto é a busca dos relatos das experiências vividas por outros pois “a subjetividade do parece-me é remediada pelo fato de que o mesmo objeto também aparece para os outros, ainda que o seu modo de aparecer possa ser diferente.” (“A Vida do Espírito”- Arendt, Hannah, Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, RJ, 2009, p.67).
Além da intenção subjetiva das emoções para com o experienciar algo, pode-se, através do pensamento, imprimir diferentes funções ao objeto. Para tanto, devo abstraí-lo do seu contexto com o propósito de “des-realizá-lo” e assim percebê-lo de forma diferente. Isso é uma arte, pois para tanto, tenho que abstraí-lo dos meus sentidos e emoções, além de iniciar uma jornada solitária e corajosa: “Pois quando um homem se entrega ao puro pensamento por qualquer razão que seja e independentemente do assunto, ele vive completamente no singular, ou seja, está completamente só, como se o Homem, e não os homens, habitasse o planeta.” (“A Vida do Espírito”- Arendt, Hannah, Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, RJ, 2009, p.64).
O “Sentido” da Realidade
Experimentamos e conhecemos o mundo através dos cinco sentidos, mas temos a sensação, muitas vezes, de que a realidade em si nos escapa. Temos uma nova faculdade sensoria para a experiência da realidade e podemos definí-la com sendo o sexto sentido, que nos proporciona a sensação de realidade. “A propriedade mundana que corresponde ao sexto sentido é a realidade [realness]; a dificuldade que ela apresenta é que não pode ser percebida como as demais propriedades sensoriais”. (“A Vida do Espírito”- Arendt, Hannah, Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, RJ, 2009, p.68). Esta faculdade sensorial é interna e se aproxima muito da faculdade de pensar, pois a realidade sempre apresenta-se, mesmo que nunca a conheçamos, pois o contexto sempre é amplo, evasivo e difícil de ser abarcado com um todo. O sexto sentido é nossa faculdade de vislumbrá-la a ponto de nos motivarmos à investigação, para que a mesma possa fazer “sentido” em nosso existir.
O Sentido da Realidade é o que os pensadores chamam de “senso comum” pois está voltado ao aparato biológico e das sensações e emoções. Já os processos do pensamento transcendem esta experiência e sensações biológicas. “”…quando o pensamento se retira do mundo das aparências, ele se retira do sensorialmente dado e, assim, também do sentimento da realidade [realness] dado pelo senso comum.” (“A Vida do Espírito”- Arendt, Hannah, Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, RJ, 2009, p.70).
Dualidade SER e APARÊNCIA
Somos o que aparentamos ser. Esta afirmação pode parecer estranha a nós, pois tendemos a entender o Ser e a Aparência como dois mundos, onde o Ser é mais autêntico, denso, cheio de significados e conteúdo e a Aparência, como “uma mera aparência”, isto é, somente casca, superficial e sem conteúdo. Esta visão dicotômica é uma verdade que pode ser desacreditada, sobretudo quando nos reportamos às aparências autênticas. Elas imprimem uma impressão autêntica no outro que nos observa, permitindo que este nos conheça prontamente e nos retribuir com suas impressões. Percebo o Ser como uma pedra preciosa multifacetada em sua lapidação , que sempre brilha e reflete de forma diferente a cada movimento e ponto de vista. Concordo que esta multiplicidade de brilhos e reflexos são às “Aparências” deste Ser, e que serão tantas quanto os olhares e percepções a cada momento, porém, sempre o Ser mostrar-se-á pleno aos olhos de quem o vê e provocará desejos, perplexidade e êxtase pois sempre se mostrará autêntico e pleno.
“… a comum compreensão filosófica do Ser como o fundamento da Aparência é verdadeira para o fenômeno da Vida; mas o mesmo não pode ser dito sobre a comparação valorativa Ser versus Aparência que está no fundo de todas as teorias dos dois mundos.” (“A Vida do Espírito”- Arendt, Hannah, Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, RJ, 2009, p.59).
Somos tentados a dar maior valor ao Ser, pois dele pensamos como aquele que não pode ser abarcado, percebido na sua totalidade e que está, de alguma forma, além das condições de espaço e tempo. Em contrapartida, a Aparência, está somente para o “presente”, é aquela que nos alicerça na presentificação do agora e que mostra como hoje estamos e somos, bem como das implicações do passado e dos sentimentos do que está porvir, permitindo a experiência para com o Ser que se apresenta e a isso chamamos de “contato com a realidade”.
“A experiência transcende não só a Aparência, mas o próprio Ser.” (“A Vida do Espírito”- Arendt, Hannah, Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, RJ, 2009, p.59).